Sexta-feira, 9 de Fevereiro de 2007

Voto SIM

O assunto do dia, ou melhor, do mês, é o Referendo sobre o Aborto, e como não podia deixar de ser, o “Humanos somos todos nós” também dá a sua opinião. Podemos não ter centenas de leitores (nem dezenas, quanto mais…), mas mesmo sendo poucos, não deixamos de estar atentos, de ter opinião e de expressá-la.

No Domingo, dia 11 de Fevereiro, vou votar SIM com toda a convicção.

Voto SIM porque, em primeiro lugar sou a favor da liberdade individual. Apoio aquele velho lema de que “a liberdade de um acaba quando começa a do outro”, e neste caso, a “minha” liberdade ao escolher abortar, não interfere com a liberdade dos outros. Vivemos num país que apela todos os dias à liberdade de expressão, à liberdade de escolha… Todos os dias, por uma razão ou outra, há sempre alguém que nos lembra que vivemos em democracia, que vivemos num país livre… E quando falamos em aborto?! Não estaremos também a falar de um caso em que a liberdade de escolha é fundamental?!!

Como me considero livre e “agradeço” viver num país que assim também se considera, não entendo como podemos querer ir contra a liberdade uns dos outros…

            Considero-me sortuda por ter crescido num ambiente favorável ao diálogo, em que nunca houve tabus. Cresci com toda a informação que qualquer jovem deve ter, mas que muitos infelizmente não têm. Escolhi também um curso (Enfermagem) em que a informação sobre planeamento familiar, métodos contraceptivos (que é o que interessa para este tema) me está acessível, ou melhor, me é obrigatória saber. Por tudo isto sei que sou privilegiada, mas também sei que ainda há MUITOS jovens que a nada disto têm acesso, cuja educação e ambiente familiar não lhes proporcionou uma responsabilidade informada. E sabemos bem que a maior parte das vezes, estas lacunas de informação só acontecem nos ambientes mais desfavorecidos.

Então, será que por eu ter mais possibilidades, por ter um ambiente familiar melhor é justo ter oportunidade de recorrer a um aborto numa clínica com condições e segura e uma rapariga que não tenha os mesmos recursos que eu tenha que recorrer a um charlatão qualquer pondo em risco a sua vida?! A mim não me parece justo…

Sabemos também que qualquer método contraceptivo é falível. A pílula, por exemplo tem uma eficácia de 98/99%. Realmente é uma eficácia considerável, mas qualquer um de nós pode estar entre aqueles 1 a 2%. O preservativo, por exemplo, tem uma taxa de falha entre os 5 e os 12%. Até mesmo a vasectomia e a laqueação de trompas podem falhar. As falhas nestes últimos métodos estão relacionadas maioritariamente com a cirurgia em si, com a sua realização incorrecta. Obviamente que não é muito provável que uma cirurgia seja mal feita, mas pode acontecer. Ou seja, mesmo tomando todas as precauções e mais algumas, elas podem falhar.

E depois?! Engravidei porque fui irresponsável? Porque não recorri aos métodos que estão ao meu alcance para me proteger?! Não…

Mesmo tendo feito o meu planeamento familiar e seguindo as recomendações da ginecologista em relação aos métodos contraceptivos eles falharam e engravidei. Não terei sido eu responsável o suficiente?! Mas afinal a culpa não foi minha… Não culpo ninguém obviamente mas, e agora?! Não tenho direito a abortar?! Vou trazer ao mundo uma criança não desejada, num momento da vida em que não estou preparada económica, física e psicologicamente?! Mas eu quero que um filho meu cresça em harmonia, cresça num ambiente saudável. E este não é o momento. Vou ter que obrigar um ser a vir ao mundo, mesmo sabendo que o seu crescimento não vai ser dotado de tudo o que ele merece?! CLARO QUE NÃO!

Sou responsável, estou informada, mas mesmo assim não estou livre de engravidar. Se farei um aborto? Não consigo responder a essa questão sem colocar muitas dúvidas a mim mesma, mas pelo menos, quero ter a certeza que o meu país vai aceitar a minha decisão. Gostava de ter a certeza que não ia ter que recorrer a uma clínica clandestina ou ir a Espanha. Gostava de estar certa que a lei não me ia condenar. Gostava de poder ser tratada convenientemente no Sistema Nacional de Saúde e não ter que recorrer a ele porque fui obrigada a submeter-me a práticas de alguém sem formação e em locais sem condições.

Na realidade, são tantas as razões para votar SIM que elas atropelam-se no meu pensamento.

O meu desejo sincero é viver num país menos hipócrita, menos elitista. É poder sentir solidariedade nas pessoas, respeito pelo outro. Nenhuma sociedade é perfeita nem nunca o irá ser (a perfeição não passa de utopia), mas aquela em que eu vivo parece-me estar estagnada. A desculpa de que a nossa sociedade ainda não está “evoluída” o suficiente para receber uma lei destas só faz com que acredite que ninguém quer mudar. A mudança é necessária, é vital. Nada é estanque e muito menos as civilizações o são!

Voto SIM porque cada vez mais quero poder orgulhar-me do meu país, voto SIM porque quero sentir-me bem onde estou, porque quero ser respeitada e respeitar, porque tenho o direito a ser livre e a decidir!!




Saudações
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Brilhantemente elaborado por Ana Claudia às 22:32
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